àOs meus anti heróis: João e Maria
Na volta de casa, em ocasiões diferentes, me deparei com os anti heróis João e Maria. João devia ter a mesma altura que eu, moreno, malhado pelo trabalho, aparência humilde em uma mão trazia uma máquina de cortar grama, na outra uma menininha, que parecia sua filha, essa por sua vez trazia na sua pequena mão um cordão que puxava um galho, seu brinquedo. Eles caminhavam num passo que julgo ser o mais rápido que a menininha conseguia acompanhar, sem correr. Eu incrivelmente estava mais apressado que eles, precisava chegar em casa, onde minha família me esperava para um almoço do qual certamente haveria restos cujo destino seria o lixo. Mas antes precisava passar em uma loja e comprar créditos para o celular da minha irmã, achava justo ela poder ligar para outras pessoas. Enquanto caminhava era impossível não reparar naquela menininha junto, creio eu, do seu pai, 3 destinos duas ruas e algumas esquinas; meus problemas eram e são ínfimos perto do deles enquanto eu podia acabar chegando atrasado em casa caso não fosse rápido, eles talvez ficassem sem casa se mais pessoas se negassem a contratá-lo para cortar a grama dos seus jardins. Como queria ser rico naquela hora para ajudá-los, talvez se desse os dez reais que tinha no bolso eles poderiam pagar seus almoços, entretanto eu precisava deles para meus caprichos e tudo que fiz foi continuar em meu passo acelerado procurando por um local que aceitasse meu cartão para comprar os créditos. E João o anti herói continuou sua jornada com sua filinha e fiel companheira de trabalho, e ela com seu brinquedo e com seu pai herói.
Encontrei Maria por um caminho diferente do qual tomei quando encontrei João, provavelmente nenhum deles tinha conhecimento da existência do outro, acho que não tinham tempo nem para pensar nas suas próprias existências, enquanto eu esbanjo aqui, escrevendo e corrigindo meus erros de português. Voltando ao assunto, Maria também trazia sua filinha, esta vinha do colégio, cujo qual estudei quando era menor, escola pública de ensino fundamental. Caminhavam em um passo relativamente rápido, a expressão da minha anti herói era a de alguém presente de corpo mas distante de alma, alguém que pensava sobre os problemas financeiros que a assolava. Não suficiente estes, sua querida filinha falava: “mamãe você prometeu, quero aquele vestido” e a pobre Maria respondia: “mas aí a mamãe vai ficar sem blusa pra vestir”.
Infelizmente não passei mais tempo ao lado delas, já que caminhávamos em caminhos contrários, para absorver mais algumas palavras do diálogo, mas pelo que escutei e observei Maria faz parte da maioria das mãe brasileiras, trabalhadora acaba por passar a maior parte do tempo fora de casa e dando presentes encontra uma forma de agradar a sua filha, trás consigo decepções assim como certamente o nosso anti herói João também traz, mas o que podem fazer? Eles se esforçam, lutam com todas as forças para sobreviver e poder dar o melhor para os seus filhos mesmo que para isto tenham que sacrificar suas vontades, sonhos. Nada podem fazer, são engolidos pela sociedade em que vivem, uma sociedade que destrói os valores morais, e ensina que o material vale mais que o sentimental, neste contexto essas pessoas se tornam os meus anti heróis.
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